O Traje de Corte Francês
No século XVII, a França se tornou líder incontestável do estilo na Europa. As raízes da moderna indústria da moda remontam à Paris da década de 1670, quando publicações e lojas de roupas e acessórios recém surgidas promoviam estações, estilos e novidades como motores para mudanças. Esse processo é sinônimo do reinado de Luís XIV (de 1643 a 1715), mas também influência de seu ministro das Finanças, Jean-Baptiste Colbert, que criou os patrocínios estatais à indústria têxtil, conduziu as guerras do rei Luís XIV e gerou riqueza ostentada nos trajes do monarca e seus cortesãos. O próprio Colbert raramente era visto sem ser de preto, e parecia um triste reflexo do glorioso rei, como mostra a imagem a seguir.
Neste quadro de 1667, Luís XIV veste um justacorps de seda bordado e uma calça bufante na altura dos joelhos. Suas roupas refletiam o poder, a grandiosidade e a riqueza da monarquia. Até mesmo Colbert, ministro das finanças do rei - vestido de preto - usa jabô e punhos de renda.
Com o incentivo ao consumo de materiais de altíssima qualidade (como a seda e a renda), os trajes de corte alcançaram um nível de esplendor jamais igualado, e de 1661 a 1789 fizeram da França o modelo para as outras monarquias da Europa. Em teoria, todos os súditos franceses tinham acesso à corte, mas era preciso estar vestido de acordo. Para eventos como coroações, casamentos e bailes, isso significava usar o grand habit, traje que podia custar mais do que um modesto château.
O grand habit feminino, ápice da suntuosidade, ostentava tanto a riqueza e o status da mulher quanto da casa responsável por sua fabricação. Consistia em um corpete (grand corps ou corps de robe), uma saia e uma cauda. O corpete, sustentado por barbatana de baleia, comprime e expõe o busto, forçando os ombros para trás. As mangas deixavam os ombros à mostra e eram bufantes até os cotovelos, enfeitados com camadas de renda e debruns. A saia é sustentada por anquinhas feitas com barbatana de baleia, hastes de salgueiro ou de metal e recheada com tecidos rígidos.
A rainha espanhola Maria Teresa e seu filho, ambos usando o grand habit.
O grand habit masculino compreendia um casaco externo comprido (justacorps), um colete e uma calça bufante, substituída em 1670 por uma calça justa. Dependendo da ocasião, as peças levavam bordados, renda e joias.
A combinação de corte e comércio deu origem à moderna indústria da moda, pois os cortesãos conseguiam reagir mais depressa que os alfaiates da corte ao que as mulheres queriam usar. Em 1675, os costureiros conquistaram o status de guilda, passando a comercializar seus produtos de forma eficaz. Seus negócios foram impulsionados pela criação do periódico de moda Le Mercure Galant, que noticiava quem usava o quê e onde, dando início às tendências de moda e ao conceito de temporada.